Dinheiro em Árvore? Nem no Vale do Silício


(in Portuguese, originally written for IVP)

Nos últimos anos, encontrei centenas de empreendedores brasileiros visitando o Vale do Silício. Quando pergunto “qual o seu objetivo nessa visita?”, invariavelmente ouço “tenho uma startup, vim procurar um VC e tentar pegar um investimento”.

Nesse post, eu o convido a visitar a California, mas também explico alguns conceitos básicos de investimento em startups e mostro que “pegar um investimento” não é um objetivo realista para a grande maioria dos empreendedores brasileiros visitando o Vale.

Empreendedor, Angel and Venture Capital

Empresas podem nascer, crescer e morrer de várias formas, mas durante as últimas décadas o Vale do Silício na California desenvolveu um modelo de empreendedorismo que parece maximizar a eficiência do ecosistema empreendedor.

No estágio inicial, uma startup é financiada pelos próprios fundadores (economias pessoais, investimentos de amigos, empréstimos bancários, suor e trabalho). Bootstrapping é o processo no qual a empresa desenvolve o produto e gera receitas para pagar as contas e crescer sem capital externo adicional.

Embora bootstrapping possa ser o caminho para a sua empresa, no modelo padrão existem dois tipos de investidores que fornecem o capital para a empresa crescer. Isso permite planos de negócios com riscos e objetivos mais agressivos.

Angel Investors são indivíduos ou grupos de indivíduos que investem capital próprio. A decisão de investimento ocorre por “gut feeling”, envolvendo experiência no mercado, relação de confiança com fundadores, e paixão pela tecnologia. Normalmente Angels investem cedo na evolução da empresa e, nos EUA, fornecem USD$100-$500k.

Para receber angel investment, uma startup precisa ter um protótipo do produto/serviço e alguns usuários ou clientes. O empreendedor precisa mostrar que conhece o mercado e o problema, sabe o caminho para uma solução viável, e consegue executar. O investimento normalmente é utilizado para completar o desenvolvimento do produto e validar o modelo de negócios.

VC Investors são fundos administrados por profissionais. A decisão de investimento é baseado em análise, já que o VC precisa justificar o aporte para os investidores e manter o perfil de investimento do fundo. Normalmente VCs investem mais tarde na evolução da empresa e, nos EUA, fornecem USD$1-5M em uma rodada inicial.

Para receber investimento VC, uma startup precisa ter um produto no mercado. Para um serviço de Internet, ter 100k’s usuários e taxas de conversão/retenção boas.  Para um produto corporativo, precisa ter vários clientes com validação da proposta de valor e a recomendação de analistas de mercado independentes. O empreendedor precisa mostrar que o modelo está validado e que capital é o último fator necessário para escalar o negócio.

A Startup Brasileira e o Silicon Valley

Para quem me conhece, eu sempre falo que é quase obrigatório para um empreendedor planejando jogar pelas regras do jogo acima visitar o Vale do Silício e passar algumas semanas aqui. Escrevi sobre as razões disso em um post anterior e outro.

Mas vir para o Vale para “tentar um investimento” não é realista porque esse ecosistema é altamente local. Por motivos legais e logísticos, é raro para um investidor Angel ou VC investir em uma empresa brasileira trabalhando o mercado local. Mesmo quando ocorre, o aporte exige que a empresa se estabeleça nos EUA. Então o dinheiro do Vale (1/3 de todo o capital de risco no mundo) não é diretamente acessível ao empreendedor Brasileiro.

A boa notícia é que esse mesmo ecosistema está se formando em outras partes do mundo e o mercado está respondendo à onda de empreendedorismo ocorrendo no Brasil. As incubadoras e aceleradoras estão se multiplicando (com as boas e más consequencias da expansão rápida). Fundos Angel (como a própria IVP) e VC estão se formando (com capital nacional e daqui do Vale).

Mas e a história do empreendedor que recebeu $5M do VC somente com um PowerPoint? E o Instagram que teve um exit de $1B sem ter um modelo de negócios? Sim, mas essas são as excessões que aparecem na mídia e criam a ilusão que é fácil pegar investimentos sem um negócio viável. Para os 98% de startups normais, as regras se aplicam.

Então me siga no Twitter venha me visitar aqui no Vale do Silício (tour), mas não porque você ache que dinheiro para startups cresce em árvores.

Marcio Saito foi de São Paulo para a California para ajudar a estabelecer a Cyclades (a primeira empresa brasileira de tecnologia a se estabelecer no Vale) 20 anos atrás e acabou ficando. Trabalha com tecnologias de Data Center e Social Media. Envolvido com empreendedorismo, hoje coordena o programa de mentoria da Bay Brazil, uma entidade que conecta as comunidades profissionais do Brasil e Vale do Silício.

2 thoughts on “Dinheiro em Árvore? Nem no Vale do Silício

  1. Muito pertinente seu post Márcio. Concordo 110%.
    Estamos vendo uma legião Y de brasileiros que moram com os pais, e usam a mesada pra pagar assessoria de imprensa no Brasil para aparecer como o próprio Zuckerberg para a família.
    Uma startup tem que comunicar para seu target de early adopters, para depois vir pra cá e apresentar um plano pra ganhar escala a um angel. A maioria não quer fazer acontecer, quer só se fazer aparecer…
    Vamos marcar um café, estou em SanFran e desço pra aí um papo.
    Abs.
    Flávio

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