Brasil 2011: O futuro aqui ou exuberância desvairada?


Por que uma latinha de  Skol no Pão de Açúcar de São Paulo custa mais que uma Budweiser no Safeway de San José?

A vantagem de morar fora do Brasil é que eu visito apenas uma ou duas vezes por ano e, as vezes, percebo mudanças melhor que as próprias pessoas vivendo a realidade brasileira no dia-a-dia.

Depois de bater no fundo do poço no início da década de 90,  cada vez que venho ao Brasil fico feliz com os avanços em todas as áreas, e principalmente na economia: controle da inflação, redução da pobreza e diferenças de renda, redução do desemprego, estabilidade da economia, abertura para o mercado internacional, projeção internacional.

A escolha do país para sediar a próxima Copa do Mundo e Olimpíadas parecem ser símbolos marcantes da ascenção do país no cenário internacional.

Mas dessa vez (estou na última de 3 semanas de uma visita a trabalho) está sendo um pouco diferente.

Algumas coisas estão tão positivas como em minha última visita. O Brasil vive uma situação de pleno emprego (desemprego em torno de 6%), e o clima é de otimismo. A economia está crescendo, empresas internacionais investem no país e novas multinacionais brasileiras extendem o alcance fora das nossas fronteiras.

Mas eu estou um pouco preocupado lendo os jornais e principalmente na minha experiência no dia-a-dia de um visitante.

Começou com a reserva do hotel. Estou no Íbis de Campinas. Um hotel business básico. A diária é R$139. A diária no Íbis de Munique na Alemanha, da mesma rede, cobra diárias de 59 Euros (R$135). Um hotel da mesma categoria na cidade onde eu moro na Califórnia cobra cerca de US$75 (R$120).

Ou seja, a diária de um hotel no Brasil está igual ou mais alta que hotéis equivalentes em cidades do mesmo porte na Europa e nos EUA. Como imagino que o salário dos funcionários é bem mais baixo no Brasil, a diferença pode ser atribuída ao risco de se fazer negócios no Brasil (a Accor, dona do Ibis precisa ter lucro maior) e principalmente da carga tributária (o famigerado “custo Brasil”).

Está bem. Eu estou acostumado com preços de artigos importados e serviços para a classe média alta e empresas ser alto no Brasil.

Mas a surpresa maior veio com artigos do dia-a-dia. Nesses dias, meu almoço no bandejão no campus do CPQD de Campinas (buffet por quilo, o lugar mais barato para se comer nas redondezas) custou de R$12 a R$17. Essa é exatamente a mesma faixa do meu almoço na California ($7 por fast-food, $11 por um bentô no Japonês). Uma latinha de Skol no supermercado custa R$1.40, enquanto uma latinha de Budweiser na California sai por menos (uns $.75).

Preços de produtos e serviços locais utilizados pela população geral no dia-a-dia comparáveis aos preços da Califórnia (o lugar mais caro dos EUA)?

Também notei uma atitude de consumo nova entre as pessoas com quem interagi (uso de crédito, aspirações de consumo global, etc).

Tudo isso é muito bom. O Brasil é parte do mundo global e o consumidor brasileiro deveria pode ter as mesmas aspirações e acesso a consumidores de qualquer outro lugar. Talvez o futuro tenha finalmente chegado para o país que brincava de dizer sempre seriamos o país do futuro.

Mas ao mesmo tempo, a inflação beira os 7% com pleno emprego. Embora o governo tome uma parcela alta das receitas, a infraestrutura do país (energia, portos, aeroportos) está para trás. Boa parte da boa fortuna econômica está atrelada ao boom dos últimos anos no preço de comodities e no agro-negócio. Moeda valorizada, e inflação subindo… uma combinação perigosa. Vários fatores que me deixa nervoso (e, aparentemente, os economistas também).

Sinais do progresso ou indícios de exuberância insustentável?

Fico torcendo que seja o futuro que tenha chegado.

5 thoughts on “Brasil 2011: O futuro aqui ou exuberância desvairada?

  1. Oi Marcio,

    Eu comi no El Torito na sexta com minha esposa e meu filho…conta foi de R$70…imagino que no Brasil a conta seria por volta de R$120, sem exagero.

    1. Ricardo… é isso mesmo. Acima do El Torito, mas paguei R$65 por pessoa para comer massa e salada no Fellini de Campinas, sem bebidas. R$50 por uma peça de picanha na feira. R$40 pelo taxi do hotel até o escritório. E os exemplos vão por aí afora.

  2. E o pior é que muitos brasileiros acham que uma Skol a R$1,4 ou um hotel a R$139,0 é normal.
    Nossa gasolina é a pior que existe e aqui do lado, na Argentina eles abastecem com uma gasolina de otima qualidade e bem mais barato que nós aqui no Brasil. Detalhe a gasolina deles é nossa!

    Muitos acordos feitos de forma desesperada no passado e muitos erros no presente vão nos levar a errar também no futuro e se acostumar com esses erros.

    Fiz uma pesquisa com alguns colegas perguntando você acha que R$1,4 por uma latinha de Skol caro ou barato?
    E o que ouvi foi: “Po!! ta barato!!!” ou então, “Onde ta 1,40 que eu vou la buscar”.. o seja.. o povo ta acostumado a pagar caro e não reclamar.

    Vamos estimo melhoras para o Brasil, me parece que o povo esta ficando mais esperto e mais preocupado com a economia.. Nosso Câncer ainda são os políticos.

  3. A visão de um brasileiro que vive fora. Conversamos sobre esta visão, com a qual concordei em todos os pontos.
    Espero que a redoma de vidro que recobre o Brasil resista!

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