Semana passada, minha casa (na California) foi invadida por Formigas Argentinas. Isso acontece todo ano no final do verão. Então eu sei o que fazer. Tenho que colocar a única marca de veneno que funciona com as ditas cujas e daí ter paciência e viver dois dias com as formigas até o veneno fazer efeito.
Não se se vocês já ouviram a história, mas as formigas chegaram a da Argentina e se deram bem por aqui. Hoje elas formam uma única super-colônia que cobre 1000 quilometros da costa Californiana.
Eu imagino que para uma formiga, achar uma migalha de comida no chão da minha cozinha é desafio comparável a achar um específico torcedor do Flamengo no Maracanã lotado. Mas, trabalhando de forma colaborativa, formigas conseguem executar essa tarefa com eficiência surpreendente.
Umas quarenta formigas entram na cozinha e começam a explorar ao acaso. Pode levar uma hora ou duas, mas no final uma delas acaba encontrando a migalha de comida. Ela então começa uma nova busca por uma companheira. Encontrando, as duas tocam as antenas por um momento: achei comida.
A formiga original volta à migalha, marcando o caminho quimicamente de forma que outras possam seguir a trilha. A segunda formiga vai procurar a próxima para espalhar a notícia.
A mágica acontece. Em menos de dez minutos depois da primeira descoberta, a coisa converge rápidamente. Uma trilha se forma entre o ponto onde as formigas entram na casa e a migalha de comida. Um exército de centenas de milhares invade minha cozinha.
Imagino que cada formiga não tenha a menor idéia da missão coletiva. Ela apenas segue um programa bem simples gravado no instinto individual. Mas, através da colaboração, a comunidade de formigas executa uma tarefa complexa (achar uma migalha de comida no chão de uma cozinha) com “inteligência” e eficiência surpreendentes.
A lição das formigas: indivíduos iguais, trabalhando colaborativamente, sem comando centralizado (tem a rainha, mas ela não parece muito ditadora) podem executar tarefas complexas que estão além da habilidade (ou mesmo a compreensão) individual.
Fico pensando se somos como formigas, inconscientes da nossa missão coletiva.
Tenho certeza que podia ter outras idéias interessantes derivadas da observação das formigas. Mas era hora de preparar o jantar.