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Tirei a foto do topo to Mt. Shasta. Desde quando me mudei para os EUA em 1993, tenho praticado montanhismo.
O que leva alguém a treinar por vários meses, passar frio e se submeter ao sofrimento e riscos de uma escalada para chegar ao alto da montanha?
Embora a resposta seja complexa, em boa parte, o motivo é o mesmo pelo qual sonhamos com férias no Egito ou vamos ao parque de diversões para experimentar aquela nova montanha russa: estamos tentando recuperar o senso de aventura.
Aventura é definida nos dicionários como uma atividade que nos coloca em contato com incerteza ou o desconhecido, que envolve risco ou perigo (mas que pode ter recompensas surpreendentes).
O marido no tempo cavernas chegando em casa:
– Ô mulher, cheguei.
– Como foi o dia, amor?
– Não foi muito bom, não trouxe comida hoje. Um urso roubou nossa caça.
– Ah, nao tem problema querido, eu achei umas castanhas hoje de manhã.
– Você tem certeza que não são venenosas?
– Certeza não, que nada nessa vida é certa, né amor?
– Que é isso no seu braço?
– Um tigre-dente-de-sabre que me atacou hoje a tardinha. Só um arranhão.
– Vem cá amor.
– Ai…
Na sociedade moderna, perdemos a aventura. O termostato mantém a temperatura em casa a 20C no inverno e 28C no verão. Eu acordo as 7 da manhã (meu despertador tem baterias para continuar funcionando mesmo que acabe a luz) e saio de casa as 8 em ponto. Chego no escritório as 8:27. A temperatura no escritório é 25C o ano inteiro.
No sábado, vou ao supermercado (onde a temperatura é mais fria, uns 18 graus) e posso comprar aspargos (da California na primavera, do Chile no inverno, do Mexico no resto do ano). Se bobear, passo a final de semana inteiro sem falar com outra pessoa. Aventuras amorosas são políticamente incorretas e até sexo é seguro. Nunca mais vejo o céu.
Mesmo nos casos daqueles raros imprevistos da vida cotidiana, temos airbags, compramos apólices de seguro contra incendio, contra roubo. E contra terceiros, que tem muito louco por aí afora. Temos reservas, planos de emergência e previdência pública e privada. Não sabemos de onde a comida vem, tudo vem limpo e embalado em plástico.
Como é que chegamos a essa rotina sem surpresas, riscos e encantamento?
Será que é possível viver a vida de hoje recuperando o senso de aventura? Sair na chuva sem guarda-chuva? Puxar conversa com a mulher no supermercado? Comprar brócoli ao invés de aspargos? Desligar o ar condicionado? Imaginar que um tigre-dente-de-sabre está esperando na porta quando saímos para o trabalho de manhã?
Ou será que a mágica do inesperado foi perdida para sempre? Será que estamos destinados a sonhar com aquelas férias no Egito ou sofrer escalando a montanha uma vez na vida?
E você, como traz aventura para a a sua vida, todo dia?
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Published by Marcio
Part-time thinker, mountaineer, wine snob, photographer, writer, marketer, chess player, technologist, poet, blogger, hiker, engineer.
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